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01/06/2025 23:56
O TEMPO jornal de fato

BOLERO, DE RAVEL - OBRA IMPRESSIONANTE h3d5a

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Crítico de Arte 1d233q

                                                      

Isagogicamente, Maurice Ravel, um dos grandes compositores ses do século XX, criou em 1928 uma das obras mais icônicas e singulares da música clássica: o *Bolero*. A peça, inicialmente concebida como um balé para a dançarina russa Ida Rubinstein, transcendeu os palcos de dança e se tornou uma das composições orquestrais mais conhecidas e executadas em todo o mundo. Seu impacto está na simplicidade e no uso magistral da orquestra para criar um crescendo que prende a atenção do ouvinte do início ao fim.

Outrossim, o “Bolero” é uma peça curiosa. Com duração aproximada de 15 minutos, é construído sobre uma única melodia repetida incessantemente ao longo da obra, sem variação harmônica significativa. O que faz o *Bolero* ser impressionante não está em sua complexidade melódica ou harmônica, mas sim na maneira como Ravel explora a textura orquestral, aumentando a intensidade a cada repetição. A obra começa de forma sutil, com o tema sendo apresentado suavemente pelos instrumentos de madeira, como a flauta e o clarinete, sobre um ritmo constante tocado no tambor.

Destarte, tal padrão rítmico, uma espécie de ostinato, persiste de forma inabalável do início ao fim, criando uma base sólida sobre a qual a orquestra se expande gradativamente.

Ravel, que era um mestre na arte da orquestração, utiliza cada seção da orquestra de forma estratégica. A cada repetição do tema, novos instrumentos são adicionados ou substituídos, proporcionando variações na cor e na textura sonora. O uso criativo dos metais, à guisa de exemplo, introduz uma sensação crescente de tensão. Aos poucos, a música vai se tornando mais vibrante, mais rica, até atingir seu clímax impressionante com toda a força da orquestra unida. Este momento culminante, de imenso impacto emocional, é ao mesmo tempo simples e grandioso, uma das razões pelas quais o “Bolero” continua a fascinar plateias ao redor do mundo.

Uma das curiosidades sobre o “Bolero” consiste em que Ravel, em suas próprias palavras, o considerava uma "experiência orquestral" e chegou a dizer que se surpreendia com o sucesso da obra. Para ele, a composição não tinha a profundidade que se esperaria de um trabalho destinado a grandes reflexões. No entanto, talvez tenha sido justamente essa simplicidade – combinada com a maestria técnica – que cativou tanto o público. O *Bolero* é, acima de tudo, uma obra de contraste entre constância e mudança: enquanto o ritmo e a melodia permanecem imutáveis, a textura e a intensidade se transformam radicalmente ao longo do tempo.

A peça também evoca um certo caráter hipnótico. A repetição incessante do tema, acompanhada pelo ritmo constante, cria uma sensação quase de transe, como se o ouvinte fosse levado em uma jornada inevitável em direção ao seu ápice. A essa experiência auditiva somam-se as sensações de expectativa e tensão, que aumentam à medida que a obra progride.

Em epítome, o “Bolero” de Ravel é uma obra-prima de orquestração e dinâmica. Sua impressionante capacidade de prender a atenção do público, de conduzir o ouvinte por uma progressão contínua sem jamais perder o foco, faz dela uma das peças mais emblemáticas da música clássica. Mesmo aqueles que não têm familiaridade com a obra de Ravel provavelmente já ouviram o “Bolero” em filmes, comerciais ou outros meios, tamanho é o seu impacto cultural.

Por final,  ao transformar um tema simples em algo tão monumental, Maurice Ravel criou uma obra verdadeiramente impressionante, cuja relevância e poder permanecem inabaláveis quase um século após sua criação.

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